domingo, 24 de agosto de 2008

EROTIZAÇÃO PRECOCE - O SEXO COMO PRODUTO



Há algum tempo, as bandas de axé arrastavam legiões de espectadores com uma mistura de melodias contagiantes, dançarinas com pouquíssima roupa e coreografias sensuais.



Crianças que ainda nem sabiam falar já usavam roupas sensuais e imitavam as famosas coreografias de se abaixar na boca da garrafa ou de remexer a bundinha. Logo depois chegou a mania do funk, cujas letras de música, absolutamente impróprias para crianças, reforçavam a vulgarização do sexo e a banalização da relação afetiva entre homem e mulher. Os programas de auditório, exibidos durante as tardes de domingo, entrevistam modelos que posaram nuas em revistas masculinas. Cenas de sexo em novelas, beijos quentes em propagandas de refrigerante: o sexo é vendido como produto e virou atração indispensável na hipnose exercida pela mídia.



A erotização precoce nada mais é do que um fenômeno gerado pelas situações descritas acima, de acionamento dos impulsos sexuais, muitas vezes de maneira inadequada à idade, conduzindo a criança a entrar no mundo sexual adulto muito cedo, atropelando fases do desenvolvimento e prejudicando o processo de aprendizagem afetiva dos pequenos. Ou seja, a sexualidade, entendida como elemento presente em todos os estágios de desenvolvimento do indivíduo, acaba sendo desviada para o erótico, o excitante, o sensual, quando na realidade deveria ser canalizada para a construção das emoções, das relações sociais, da experimentação de papéis e do desenvolvimento da afetividade.



O fator que mais influencia para que a erotização precoce aconteça é a dinâmica familiar desequilibrada e a falta de limites nas atividades diárias das crianças. A TV (principalmente novelas), a internet, os videogames, as músicas com letras de má qualidade, as propagandas abusivas e a falta de monitoramento por parte dos pais, aliada à ausência de uma noção de lazer mais saudável, mostram uma realidade desastrosa. De acordo com dados do Painel Nacional de Televisão do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), que mede a audiência nas principais capitais brasileiras, em 2005 o brasileiro passou, em média, cinco horas em frente à televisão e as crianças na faixa etária entre 4 e 11 anos, dedicaram 4 horas e 51 minutos diários aos programas televisivos.



Dá para evitar?



Partindo da idéia de que a criança aprende e desenvolve sua personalidade baseada na dinâmica da família, nos exemplos das pessoas de convivência mais próxima e nos limites estabelecidos pelos responsáveis por ela, a tarefa para evitar tal fenômeno é sua, pai e mãe. Culpar a mídia que produz porcarias ou criticar o governo que não controla ou não pune de maneira eficaz os meios de comunicação não são atitudes que promovem mudança. A realidade é outra.Os pais são os únicos que podem estabelecer disciplina e filtrar o que entra em casa e na vida dos filhos.


Censurar certos programas de TV, monitorar o uso da internet e selecionar brinquedos podem ajudar, e muito, para uma vida mais tranqüila e menos influenciável.

Além de tudo isso, se cada cidadão emitisse sua opinião enviando cartas ou e-mails para as empresas responsáveis pela veiculação de imagens ou materiais inadequados à criança o combate à erotização precoce seria potencializado. Mas não se esqueça: a melhor ação ainda é o limite estabelecido no lar.


Limites, sim, mas com bom senso


Comece a assistir com olhos críticos aos programas televisivos. Novelas, noticiários e propagandas são fontes perigosas de erotização precoce e violência, criando necessidades e induzindo a comportamentos indesejáveis. Você não precisa proibir a TV. O bom senso deve estar presente nos limites estabelecidos pelos pais. Se o tempo dedicado à televisão está atrapalhando ou superando o tempo de convivência familiar, alguma coisa está errada.Para facilitar o controle do conteúdo ao qual a criança tem acesso, mantenha os televisores e computadores em locais de circulação da casa, jamais no quarto dos filhos.



Mesmo que a internet seja utilizada para pesquisa escolar, a criança não precisa ficar isolada no quarto. Além do acompanhamento constante dos pais, existem ferramentas de filtragem que dificultam o acesso a páginas com conteúdo proibido ou inadequado às crianças. Informe-se sobre isso. Não perca tempo!



É possível programar o computador para desligar em horários estabelecidos pelo usuário. Se você estipular como regra da casa desligar o computador às 20 horas, a máquina fará o serviço sozinha. A famosa frase “só mais um pouquinho” não terá mais sentido e a criança irá aprender a finalizar suas atividades virtuais no horário certo. Descubra formas de lazer alternativas: jogos, passeios, exposições, piqueniques, momentos agradáveis em família.


Não adianta proibir ou diminuir o horário de uso da televisão e internet se você não proporciona outras atividades prazerosas para seu filho. Os pequenos precisam da iniciativa dos pais para descobrir outras formas mais saudáveis de diversão.

Discernimento



Não incentive atitudes erotizadas que a criança venha a reproduzir: danças sensuais, piadas, roupas insinuantes. Tome cuidado com letras de músicas que incentivam a prática da violência, traição, mentira, desvalorização dos sexos, uso de drogas. Diversifique o repertório musical na sua casa e deixe à disposição dos pequenos uma variedade de canções educativas e de músicas de qualidade. Assista a alguns programas junto com seu filho e ajude-o a discernir os aspectos positivos e negativos. Sua criança precisa desenvolver o senso crítico para saber fazer escolhas com autonomia e bom senso.E lembre-se: crianças que convivem com formas de lazer saudáveis e aproveitam o tempo de maneira produtiva dificilmente serão influenciadas a seguir os modelos duvidosos da mídia.

Um comentário:

Ana Cláudia disse...

Isso me desespera. A verdade é que eu queria que minha filha nao tivesse contato nenhum com essas coisas... mas sei que é impossível. Aí vai entrar o trabalho mental do pai e da mae...
Ai que medo!